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"Silvio Santos Vem Aí!": uma homenagem em vida mais que merecida

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 16/10/2023 às 13:21:09

O que é o teatro? Um espetáculo cênico que deve ser obrigatoriamente perfeito? Algo que tenhamos que apontar os defeitos ou exaltar as qualidades dos artistas? Penso que não para ambas as respostas. O teatro é um entretenimento que deve nos fazer felizes, revisitar o passado, nos EMOCIONAR ou nos ensinar.

O teatro conta histórias e eu adoro ouvir histórias, ainda mais quando vivenciadas por mim, num passado não tão distante. Penso que, naquela plateia, eu não cumpria a função de crítica teatral, era mais uma brasileira, mais uma espectadora que se deleitou ao lembrar de momentos tão emocionantes da televisão brasileira.

O espetáculo "Silvio Santos Vem Aí!" me levou às lágrimas algumas vezes, me fez lembrar os momentos mais importantes da minha vida, quando eu era menina, ao lado da minha família. O senhor Silvio tem uma bela história para contar, ele é um exemplo de perseverança. Para aqueles que não admiram o apresentador ou não gostam de reviver momentos guardados em suas memórias relacionados com o apresentador, acho melhor declinar do espetáculo, porque a produção segue à risca as décadas vivenciadas por Silvio. Tudo muito brega, com aquelas brincadeirinhas patetas do grande apresentador. Aliás, piadas que são suas maiores características. E, nisso, a dramaturgia também não pecou.

O espetáculo inicia com o Programa de Calouros, que era apresentado no horário noturno no final de domingo. É gostoso relembrar Sônia Lima, Sergio Malandro, Pedro de Lara e Aracy de Almeida, todos conhecidos no cenário artístico nacional. E isso também deve-se ao Senhor Silvio. Claro que nos divertimos demais, levantamos nossos pompons prateados que já nos esperavam no "auditório". A plateia entra no clima!

Os artistas, com movimentos corporais bem executados, nos levam facilmente aos personagens que nos apresentam. Só cabe a mim agradecer a cada um deles.

Logo depois dessa cena divertida, a história de Silvio é contada.

“Sílvio Santos é um apresentador de televisão e empresário brasileiro. Começou a trabalhar como camelô aos 14 anos, quando aprendeu a negociar e a expor a sua voz, considerada poderosa. Silvio Santos (nome verdadeiro: Senor Abravanel) nasceu na Lapa, Rio de Janeiro, no dia 12 de dezembro de 1930.”

Basta ler o parágrafo acima para entender e reconhecer o tamanho do dono do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), rede de televisão comercial e aberta, fundada em 1981.

Silvio Santos tinha inúmeros programas em seu canal. Todos eles estavam no palco. Cada um deles foi mencionado com carinho, como uma bela homenagem ao apresentador Silvio e também aos seus apresentadores, como Hebe Camargo e Gugu Liberato, que fazem parte da história da televisão brasileira.

Mas antes de tornar-se quem é, Silvio passou momentos bem difíceis, principalmente com a Rede Globo, sua rival por longos anos. Para Silvio Santos ter a concessão do canal televisivo, ele procurou os militares durante a ditadura, dançou conforme a música. Mesmo sabendo da posição política do apresentador, os artistas teatrais souberam fazer sutilmente a crítica aos militares e a essa época apavorante no país.

O senhor Silvio Santos apoiou um fascista na presidência. Isso não podemos esquecer, porém vivemos em uma democracia. Mas Silvio trouxe o Bozo para seu canal e, com isso, entende-se a queda do apresentador por palhaços... Portanto está tudo explicado.

Falando em Bozo, foi lindo ver aquele palhaço, com seus cabelos vermelhos, no palco do Teatro Riachuelo. Lembrei-me do artista Luis Ricardo, um dos que interpretou o Bozo. Impossível não lembrar da Vovó Mafalda e Papai Papudo, embora eles não tenham sido levados ao palco. Nem Mara Maravilha foi.

Programas infantis como "Chaves" e "Carrossel", além de novelas como "Chiquititas", "Éramos Seis" e "Rebeldes", nasceram no Canal 11 do Rio e até hoje são lembrados!

A história é levada de forma anacrônica. O presente no passado, como um sonho profético. Sintetizar tantos anos em um espetáculo não é tão fácil. Quando Gugu Liberato apareceu com a canção "Passarinho quer Dançar", chorei. O programa "Viva a Noite" foi lembrado! Ao finalizar a cena, Gugu segue para o fundo do palco, e Silvio fala: "obrigada por tudo". Foi muito emocionante, após anos dessa parceria entre os apresentadores.

Teve o "Namoro na TV", a "Porta da Esperança", o "Roletrando", entre outros. Mas meu preferido foi o "Qual é a Música?".

Quando artistas interpretaram Sidney Magal, Rosana, Giliard, Gretchen, Perla e Luiz Caldas, a comicidade entra no palco e leva a diversão para todos os espectadores. Para completar a cena, o saudoso Pablo dubla a música. Que delícia de cena ver o dublador com sua peruca loira, rosto pintado e figurino assertivo!

Lombardi (o locutor), Roque (assistente de palco) e Jassa (cabeleireiro do artista), todos são mencionados.

A vida amorosa de Silvio também é levada ao teatro, respeitosamente. Posso dizer que poeticamente.

A ida de Elke Maravilha para o SBT é contada com muita beleza. Ficamos até surpreendidos com algumas informações, como a música russa levada para o auditório.

Agora, impagável é a personagem "Velha Surda", de "A Praça é Nossa". Ela simplesmente arrebata com sua atuação. O artista está perfeito em sua performance e conquista a plateia. A construção visual da personagem foi acertada. Inclusive, pode-se dizer o mesmo com o personagem Silvio Santos. Eliana Liu, que assinou os figurinos, não pecou ao trazer as verdades do tempo. Aliás, pode-se dizer que não errou em muitos personagens, tudo de acordo com que deveria ser levado ao público.

Enrico Verta, como a já citada Velha Surda, foi divino, de uma perspicácia sobrenatural!

Ivan Parente, como o caricato Pedro de Lara, arranca suspiros com a sua voz.

Daniela Cury encarnou a eterna Hebe Camargo. Era fechar os olhos e ouvi-la. Matou a saudade. Ela foi uma mulher forte, que não aceitou as censuras da ditadura e expôs suas opiniões sem medo. Sem contar suas ideias quanto à comunidade LGBTQI+. Hebe para sempre!

Giselle Lima trouxe as personagens Sônia Lima, Cidinha Abravanel e Gretchen, com imensas colocações corporais. Com personagens tão diferentes, atuou com a ousadia certa. Linda de se ver!

Juliana Romano, como a cantora Rosana, estava excelente!

Bruno Boer nos trouxe o Bozo. Já o havia assistido no musical "70! Década do Divino Maravilhoso". Ele é um excelente artista. Como Bozo, atuou com equilíbrio e graça.

Paula Flaibann deu vida a Elke Maravilha. Ela não tem arranhões na criação da sua personagem! Mais pontos também a figurinista e visagista!

Rafael Aragão, ao entrar no palco saltitando como Luiz Caldas cantando "Tieta", foi generoso, não cometeu erros!

Roquildes Junior é um jovem artista que quebrou a quarta parede ao conter o auditório e o conduzindo com maestria. Foi respeitado o tempo inteiro com suas placas, que diziam: aplausos, vaias e risadas. Representou muito bem o eterno Roque!

Thiago Garça chamou o Pablo do além. Que maravilha de atuação!

Velson de Souza é Sílvio Santos, um artista disciplinado que soube cumprir sua função. O público o aplaudiu calorosamente. Com o tom de voz perfeito, com uma postura corporal sem mágoas, atuou divinamente. A direção escolheu muitíssimo bem!

Vinícius Loyola trouxe para nós Sérgio Mallandro, Gugu e Gilliard. Se foi bom? Ah, posso dizer que "A Pulga e o Percevejo" levou a plateia ao delírio!

Vítor Vieira ou Sidney Magal? Confesso que não tenho palavras!

Maria Clara Manesco, como Perla, foi fantástica, ainda mais com as baladas "Fernando" e "Pequetita". Divertidíssimo!

Valeu muito a pena assistir essa obra. Mergulhei no meu passado e conheci um pouco mais do Silvio, um brasileiro que é o sinônimo de superação, pois ultrapassou os seus limites com seu dom artístico, um apresentador de programa que faz parte da história da televisão brasileira. Silvio era o "dono" do Pica-Pau, Tom e Jerry e tantos outros personagens que até hoje atravessam o tempo. Domingo era dia do Silvio, dia de ver pessoas que não conhecíamos, dia das caravanas de São Paulo, era dia do "Domingo no Parque". Silvio é o homem mais admirado no Brasil, segundo a Revista Época. Acredito na pesquisa!

Adorei lembrar do meu irmão, que faleceu em 1987, aos dez anos. Ele ria com a "velha da praça", ao lado da minha mãe. Me emocionei ao lembrar da música "Silvio Santos vem aí", que era cantada enquanto eu arrumava a mesa para minha mãe. Existe afeto no musical, um desaguar de emoção ao lembrar desse passado. Silvio lembra bastante a família brasileira e, assim como nós, também construiu a sua família. De alguma forma estávamos juntos: ele fazia e faz parte da nossa vida. Dedicou a sua vida ao SBT. Mesmo diante dos percalços da vida, seguia cuidando da sua empresa. Silvio sempre foi respeitado por sua maior rival, a Rede Globo. Deu visibilidade às crianças deficientes, através do Teleton, maratona televisiva brasileira que levanta valores para ajudar nos tratamentos dos pequenos.

Silvio sempre será lembrado por sua história na TV, pois era o protagonista do auditório. Assisti a uma obra que pareceu entender a importância de Silvio. Fazer isso, em vida, ao artista, é muito válido!

Sinopse

A comédia musical "Silvio Santos Vem Aí!", escrita por Marília Toledo e Emílio Boechat e dirigida por Fernanda Chamma e Marilia Toledo, faz um recorte na vida do apresentador e empresário Senor Abravanel de sua infância, quando era camelô no Rio de Janeiro, até a década de 90, logo após a consolidação do SBT. Com personagens icônicos como Gugu Liberato, Hebe Camargo, Elke Maravilha, Bozo e Pedro de Lara, entre outros, com músicas que marcaram essas décadas e animaram os programas de auditório. O espetáculo promete agradar todas as gerações.

Ficha Técnica

Texto: Marilia Toledo e Emílio Boechat

Direção: Fernanda Chamma e Marilia Toledo

Direção Musical: Marco França

Arranjos e Produção de Backing Tracks: Leandro Nonato

Codireção e Direção Residente: Daniela Stirbulov

Cenografia: Bruno Anselmo

Figurinos: Eliana Liu

Visagismo: Emi Sato

Maestro: Diego Salles

Produção e realização: Paris Cultural

Elenco:

Yudchi – Leon Abravanel e Mário Albino

Enrico Verta – Velha Surda, Fiscal da Prefeitura, Almeida e Roberto Leal

Ivan Parente – Pedro de Lara

Bruno Kimura – Camelô, Anestesista, Bailarino Russo e Ministro Quandt

Daniela Cury – Hebe e Rebeca Abravanel

Giselle Lima – Sônia Lima, Cidinha Abravanel e Gretchen

Hellen de Castro – Íris Abravanel

Juliana Bógus – Aracy de Almeida, Colega de Trabalho e Atrasilda

Juliana Romano – Rosana, Lindalva e Dona Gina

Léo Rommano – Manoel de Nóbrega, Médico, Atrasildo e Figueiredo

Bruno Boer – Bozo e Alemão

Tatiana Toyota – Cantora de Rádio e Telemoça

Paula Flaibann – Elke Maravilha e Joelma

Murilo Armacollo – Sílvio Santos Jovem

Rafael Aragão (Cover Silvio Santos, Alberto Abravanel e Luís Caldas)

Roquildes Junior – Roque

Thiago Garça – Pablo, Bailarino Russo e Geisel

Velson de Souza – Sílvio Santos

Vinícius Loyola – Sérgio Mallandro, Gugu e Gilliard

Vítor Vieira – Sidney Magal e Boni

Maria Clara Manesco – Perla, Boneca Bolinha de Sabão e Cantora de Rádio.

SERVIÇO

Ministério da Cultura e Petrobras Premmia apresentam:

“Silvio Santos Vem aí”

Teatro Riachuelo - Centro/RJ

Apresentação: 22 de outubro, às 20h

*Sessão com recursos de acessibilidade.

Lei Federal de Incentivo à Cultura Apresentação: Petrobras Premmia Patrocínio: EMS Planejamento cultural: Opus Entretenimento e Paris Cultural Realização: Ruthers Promoção de Eventos Culturais,

Ministério da Cultura, Governo Federal, Brasil - União e Reconstrução.

DURAÇÃO: 120 minutos (+15 minutos de intervalo)

CLASSIFICAÇÃO: Livre

INGRESSOS:

- APP ou Site da Sympla https://www.sympla.com.br (com taxa de conveniência)


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